Nesta terça-feira, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), discurso na abertura da 78º Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O encontro acontece na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, e conta com a presença de diversos chefes de Estado discursando, tendo como temática os esforços para avançar na Agenda 2030.
Em sua fala, Lula discursou sobre o combate à fome e a urgência climática. Temas como desigualdade social e guerras também fizeram parte da fala do presidente. Confira o discurso completo.
Veja as principais declarações do discurso e se condizem com a verdade.
"Naquela época, o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática."
A informação é falsa: Desde 19922, a ONU já tem debatido sobre os eventos climáticos, fazendo a primeira conferência sobre meio ambiente e desenvolvimento no ano — a Eco-92. Ao todo, 179 países participaram, e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU já mostrava algumas anomalias em relação à temperatura. Além da Eco-92, as COPs ocorriam entre os países, e compunham a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, de 1995. Em 1997, o Protocolo de Kyoto foi estabelecido no Japão, sendo ele ratificado pelo Brasil em 2002, entrando em vigor em 2005.
"A fome, tema central da minha fala neste parlamento mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos."
A informação é verdadeira: De acordo com o relatório Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) publicado em julho de 2023, cerca de 735 milhões de pessoas enfrentou a fome no mundo em 2022.
"O mundo está cada vez mais desigual. Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade."
A informação é verdadeira: O relatório citado por Lula na fala é o "Lucrando com a dor”, publicado pela Oxfam. Nele, é apontado que no último ano, as dez pessoas mais ricas do mundo detinham o valor de 40% da população mais pobre. Isso equivale a cerca de 3,1 bilhões de pessoas. Dentre os assuntos que o documento trata, estão o crescimento exponencial das riquezas dessas pessoas, em meio a pandemia da Covid-19. Eles levantam ainda que 2,6 mil bilionários possuem uma fortuna que chega, somadas, a US$ 12,7 trilhões. Ainda que a informação seja proveniente deste estudo, a metodologia utilizada pela Oxfam é alvo de críticas, pois uma pessoa com alta qualidade de vida aparecia como "pobre" por conta das dívidas.
"Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas."
A informação é verdadeira:
Segundo um relatório publicado pela ONU em fevereiro, apena um terço das 169 metas foram atingidas, para chegar aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). A metade encontra-se moderada ou severamente atrasada. Na teoria, ele deve estar completo até 2030. Vale ressaltar que alguns dos apontadores regrediram, como foi o caso da fome e má nutrição.
"Inspirados na brasileira Bertha Lutz, pioneira na defesa da igualdade de gênero na Carta da ONU, aprovamos a lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre mulheres e homens no exercício da mesma função."
A informação é verdadeira: No dia 3 de julho de 2023, foi sancionada a Lei nº 14.611/2023, que prevê na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) dispositivos que buscam equiparação salarial entre homens e mulheres que realizem as mesmas funções ou de igual valor.
"Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima."
A informação é verdadeira, mas com um adendo: Grande economias como Estados Unidos, China e Rússia, tiveram suas industrializações pautadas na queima de carvão. Entretanto, vale ressaltar que estudos apontam que países mais ricos tem conseguido diminuir a emissão de CO2 através da terceirização da produção aos países emergentes.
"Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase metade de todo carbono lançado na atmosfera."
A informação é verdadeira:
Segundo o estudo da World Inequality Lab (WIL), que foi lançado em 2021, 10% dos mais ricos geraram cerca de 48% das emissões globais de 2019. O estudo da Oxfam também constatou um resultado parecido, apontando que esses 10% teria gerado cerca de 52% das emissões, entre 1990 e 2015.
"87% da nossa energia elétrica provém de fontes limpas e renováveis. A geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel cresce a cada ano.”
A informação é verdadeira, mas com um adendo: O Brasil possui, realmente, 87% da energia elétrica advindas de fontes renováveis, e os dados apontam que a geração de energia 'limpa' cresceu no país. Entretanto, o biodiesel, que foi citado pelo presidente, cai no último ano.
"Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%."
A informação é verdadeira: Segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de janeiro a agosto de 2023 as áreas que estavam sob alerta de desmatamento diminuíram 48%, em relação ao mesmo período em 2022.
"O protecionismo dos países ricos ganhou força e a Organização Mundial do Comércio permanece paralisada, em especial o seu sistema de solução de controvérsias."
A informação é verdadeira:
A OMC é um foro multilateral, que está ligada na regulação de transações comerciais entre os países-membros. Em 2019, o Órgão de Apelação paralisou e se mantém assim até os dias atuais. A paralisação se deve por conta dos Estados Unidos promover a nomeação de novos árbitros. Apenas a primeira instância de julgamentos segue ativa, o que possibilita acordos. Mas, nos casos em que não há acordos, os países têm aderido a um mecanismo de recursos. O levantamento da entidade mostra que, em 2022, forma realizadas oito consultas e painéis de disputas. O mesmo período analisado em 2018 mostra que foram abertas 38 consultas e 28 disputas.
"No ano passado, os gastos militares somaram mais de 2 trilhões de dólares."
A informação é verdadeira: O relatório do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) aponta que o planeta já atingiu US$ 2,24 trilhões em gastos militares em 2022. O valor é um crescimento de 3,7% em relação a 2021.
"As despesas com armas nucleares chegaram a 83 bilhões de dólares, valor vinte vezes superior ao orçamento regular da ONU."
A informação é verdadeira: Segundo a estimativa da Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (ICAN), que foi lançada em 2022, nove países, que possuem armas nucleares, chegam a gastar cerca de US$ 82,9 bilhões no armamento. Em comparação com o orçamento regular da ONU no mesmo ano (US$ 3,12 bilhões), o valor é 26 vezes maior.