Circula nas redes sociais um vídeo em que supostamente o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, tenha falado sobre a existência do “mesário pianista” — tipo de violação de votação, onde o voluntário votaria pelo eleitor —, sugerindo que houve fraudes nas eleições de 2022. Entretanto, a informação é falsa.
Na realidade, trata-se de um vídeo antigo, que foi tirado de contexto e editado para fazer ter o sentido da peça de desinformação. Na fala original, que foi feita no dia 6 de junho de 2018, o ministro disse durante o Plenário do STF que discutiu a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 5889, sobre a necessidade da impressão do voto registrado na urna eletrônica.
Mendes, que na época era relator da ADI, não disse em nenhum momento que as urnas eletrônicas são falhas . Ele apenas levantou questionamentos acerca dos problemas que as votações por células poderiam causar, no caso da existência de "mesário pianista", mas ele afirma que a biometria conseguiria sanar esse problema.
Nas redes, o vídeo que circula trata-se de uma parte retirada da transmissão oficial, a partir da fala de Mendes ao interromper o também ministro Alexandre de Moraes. Na ocasião, ele aborda sobre situações em que ocorreram falhas no sistema eleitoral, mas que, de acordo com o ministro, não chegaram a representar uma "distorção significativa", apenas casos "marginais".
A fala, na íntegra, diz o seguinte: "As vulnerabilidades do sistema de votação eletrônica são conhecidas da Justiça Eleitoral e, mais que isso, a Justiça Eleitoral os aponta. Por exemplo, o surgimento daquilo que, na linguagem da Justiça Eleitoral se fala, do ‘mesário pianista’. Em alguns locais se detectou. Em locais longínquos, em geral, o mesário acabava votando por alguém ausente. Isso por exemplo se detectou em um lugar no Maranhão e há um inquérito em tramitação sobre isso. Como que se descobriu [isso]? Porque se fez o cruzamento. Esse mesmo eleitor que justificou a ausência tinha votado. São questões marginais.”
"Nós tivemos um caso [em] Pescaria Brava, em Santa Catarina, em que em uma urna se detectou, em uma eleição extremamente apertada, que um morto teria votado. E aí nós discutimos toda essa questão. Por que [aconteceu]? Porque alguém usou a identidade dessa pessoa. Mas, veja, a Justiça Eleitoral, hoje, avança celeremente para a biometrização, encerrando, portanto, esse capítulo. É uma vulnerabilidade do sistema reconhecida, mas isso não leva a distorções significativas, pode ser marginal, sequer elegeria, em princípio, um vereador. Isso é detectado e a Justiça Eleitoral trata disso com toda a abertura. Tanto é que, já na gestão do ministro Toffoli, deu um passo significativo e avançou para a ideia da biometria, que acabou aprovada e que já agora provoca mudanças em todo o nosso sistema de identificação. Já estamos experimentalmente utilizando desse documento de identificação nacional, que é fruto desse projeto do TSE de biometrização geral, porque o TSE passou a ter o maior banco de dados de biometria considerando esse amplo esforço de biometrização de todo o eleitorado.”
A ministra Rosa Weber, então, convoca Moraes para continuar com o seu voto, onde o ministro diz que as problemáticas ditas por Mendes não representam "nada que também não ocorresse em outros métodos, outros instrumentos, com o voto somente escrito, [como] a votação de quem já tivesse morrido ou fraudes pontuais que a Justiça Eleitoral combate”.
A impressão do voto foi tida como inconstitucional pela maioria dos ministros.