Bolsonaro faz post controverso sobre corte de diesel russo

O ex-presidente afirmou que sua gestão foi a responsável pelos acordos com o país sobre diesel e fertilizantes e que o corte afetará diretamente a inflação

Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil
Foto: Reproduçao TV Globo
Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil

O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), comentou na última sexta-feira (22) as restrições que a Rússia fará na distribuição de diesel. Na postagem veiculada no X (antigo Twitter), ele diz que sua gestão foi a responsável por “acertar a importação de diesel” e dos fertilizantes, e completou que “com corte na exportação por parte da Rússia, o Brasil pode sentir um desabastecimento do diesel com reflexo direto na inflação”. Entretanto, a informação é inconsistente .

Bolsonaro foi à Rússia durante o início de 2022 , e informou que havia fechado acordos relacionados ao fornecimento de  fertilizantes e diesel com o país. Durante a campanha eleitoral, gostava de reiterar esse feito, atacando o então adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em uma publicação no Twitter, ele chegou a dizer: “A malandragem de Lula serviu para enrolar o povo enquanto seu governo o roubava e para enganá-lo sobre a falsa absolvição de seus crimes. Nossa firmeza serviu para irmos até a Rússia em meio a uma chuva de críticas, negociar fertilizantes e garantir nossa segurança alimentar."

Entretanto, mesmo com as declarações, na época a quantidade de combustível que vinha da Rússia era ínfima perto do consumo nacional.  Em 2022, após a viagem do ex-presidente, o Brasil recebeu entre janeiro e agosto cerca de US$ 18 milhões em combustíveis vindo da Rússia. O mesmo período em 2023, entretanto, o Brasil importou US$ 2,11 bilhões, tendo um crescimento exponencial em comparação com a gestão de Bolsonaro.

O Brasil anda não é autossuficiente em relação ao diesel, importando cerca de 30% do que consume. Deste valor, a Rússia estava representando cerca de 40,6% neste ano, com os Estados Unidos em segundo lugar com 28,4% — país esse que em 2022 representava 58% do fornecimento de importação.

A restrição

A Rússia está promovendo a restrição como uma forma de conseguir estruturar e estabilizar o mercado interno de combustíveis. Não foi informado, entretanto, quanto tempo a medida pode durar. Isso acarreta em uma incerteza na forma como a diminuição afetará o Brasil. Mas vale ressaltar que os contratos como o firmado com a Rússia são longos e complexos, restando esperar para entender se o país irá anular os acordos.

De imediato, a medida não deve afetar o Brasil, uma vez que a compra do diesel russo demora cerca de 30 a 50 dias para chegar aos portos brasileiros. Mas, caso a decisão perdure por muito tempo, poderemos ver quais serão os impactos causados diretamente. 

Dentre os impactos, poderemos ver uma pressão na Petrobras -- que não importa diesel russo — para que eleve os preços nas refinarias, sendo resultado de uma reação em cadeia do mercado. A estreia da restrição pode alterar o valor do barril de US$ 32, para US$ 42.

Em caso da restrição se manter por um longo período, especialistas preveem que o Brasil volte a importar com maior frequência com fornecedores do Golfo do México (EUA).